DISCURSO DO PRESIDENTE DO IF NA ABERTURA DO 1º FORUM FEDERALISTA NACIONAL
Curitiba, PR – 20 de outubro de 2018.
Senhoras e Senhores;
Ilustres convidados,
Para nós do Instituto Federalista é um grande prazer tê-los aqui conosco, neste dia auspicioso.
Refiro-me tanto àqueles que estão presencialmente conosco, neste auditório, tão gentilmente cedido pela UNINTER, quanto àqueles que disporão de uma parte do seu precioso tempo para assistir pela internet a discussão das idéias a que nos propomos.
As ideias que serão colocadas à apreciação dos ilustres convidados, painelistas e palestrantes, não são apenas momentosas, sobretudo, estas idéias estão circulando pela sociedade. E, se assim acontece é porque de certo modo são importantes para os brasileiros.
Há muito tempo temos pressentido e captado o rumor dessas idéias, que se movimentam nas mentes, são expressas pelas palavras, faladas ou escritas, muitas vezes indistintas, obscuras, confusas até. Porém, chega um determinado momento em que alguém consegue perceber as suas notas principais e as torna distintas, claras, não só para a mente popular, mas também para aquelas mais atentas.
A comparação das realidades com estas idéias, muitas e muitas vezes, apresenta as lacunas existentes entre as aspirações individuais, sociais, nacionais e a prática que todos vivenciamos.
Transcendendo ao raciocínio, o homem sente que aquilo que é importante para a sua vida, para as suas relações, para a sua felicidade, está em desacordo com estas realidades vivenciadas.
Não poucas vezes a ansiedade, a angústia de querer preencher estes hiatos leva as pessoas a tentarem soluções impróprias.
Muito bem, o que queremos neste dia, é discutir tais idéias de maneira livre, inteligente, educada, sensata, e se possível apresentar aos brasileiros algumas diretrizes que nos ajudem a pacificamente encontrar e estabelecer novos rumos para o nosso país.
É bem provável que algumas pessoas pensem que o federalismo é idêntico em todo o mundo, que o velho federalismo americano é igual ao federalismo alemão, mais jovem, por exemplo.
Aqueles aqui presentes que conhecem um pouco da história do federalismo saberão identificar as diferenças mais evidentes. Para a maioria das pessoas essas diferenças são praticamente nulas, de modo que quando olham para os países federalistas não conseguem distinguí-las com nitidez.
Apesar disso, quando penetramos nossos instrumentos cognitivos no cerne das práticas e teorias federalistas encontramos espaços inexplorados, portadores de força, com potencial para serem exploradas; novos princípios, novas formas, novas configurações.
Por conseguinte, nossas pesquisas demonstraram que até o federalismo é passível de inovação. E foi isso que fizemos!! conseguimos inová-lo. Temos estudado os problemas brasileiros há muitos anos e, podemos garantir: as soluções federalistas que encontramos e outras que estamos desenvolvendo para aplicar ao Brasil são absolutmente originais.
Na medida em que fomos aprofundando nosso conhecimento sobre o federalismo, tanto em nível político, quanto social e jurídico, descobrimos inúmeras potencialidades esperando para serem desbravadas.
Mas a razão não reside na mente de um único homem, a razão é distribuída por todos os seres humanos, desigualmente, sem dúvida, mas é universal. Ela está em todos e em cada um de nós, como uma dádiva divina.
Assim, desejar abarcar sozinho todo o conhecimento é mais do que um sonho megalomaníaco; é, como diz o psicanalista brasileiro Norberto Keppe, um distúrbio teomaníaco. O exercício da razão, conquanto possa ser individual, somente alcança o seu ápice quando os seres humanos trocam informações, isto é, quando exercem a razão em trocas mútuas; pois a razão é também um ato social!
Humildemente reconhecemos as nossas dificuldades, as nossas carências, as nossas deficiências.
Reconhecemos, acima de tudo, que é impossível a uma única pessoa alcançar todo o conhecimento e atingir, deter e apropriar-se da verdade.
Não alimentamos qualquer pretensão absolutista de sermos os “donos da verdade”, detentores do saber pleno, nem sequer de sentimentos de superioridade intelectual, ou de qualquer outra espécie.
É bem provável que a maioria daqueles que nos assistem, virtual ou presencialmente, não saibam quem somos. Por isso, necessárias se fazem algumas breves palavras explicativas.
Assim como nas relações afetivas, o simples enamoramento não poderá gerar frutos sem uma aproximação, sem o efetivo conhecimento recíproco, similarmente, nenhuma relação profunda se desenvolverá sem que o público nos conheça.
Assim, comecemos dizendo quem somos!
O Instituto Federalista é uma instituição dedicada ao estudo, obviamente, do federalismo, em todas as suas dimensões e perspectivas. Entretanto, o foco de nossas pesquisas não se resume ao puro conhecimento teórico, pois visa também aplicá-lo à solução dos problemas brasileiros.
Como qualquer instituto autêntico, desenvolve atividades de pesquisa voltadas para o seu objeto de conhecimento, buscando a troca constante de informações e conhecimentos com outros centros de pesquisa, com estudiosos dos mesmos temas ou de temas correlatos; busca-se também, e não poderia deixar de ser assim, a difusão deste conhecimento na sociedade.
Por isso realizamos este evento.
Podemos dizer, então, que o Instituto Federalista é formado por pessoas que desejam buscar e aprofundar conhecimentos, visando contribuir para a solução dos problemas brasileiros, tendo como base o federalismo, mas não qualquer federalismo.
Não desejamos copiar o modelo de federalismo de um país e aplicá-lo irrestrita e acriticamente ao Brasil. Isso seria uma medida anacrônica e irrealista. Tal tentativa redundaria em enormes fracassos que atrasariam ainda mais a chegada ao nosso destino, como nação, além de uma incomensurável irresponsabilidade.
Nossos estudos nos conduziram à convicção de que o federalismo, como conceito abstraído das experiências históricas, é apenas um modelo, e que este, para ser aplicado ao Brasil não deve ser a cópia exata de qualquer outro. Ao contrário, nesse modelo, certos elementos que tem predominância em um determinado país, no Brasil, seriam absolutamente contra-produtivos se aqui recebessem a mesma ênfase.
Por esta razão, na busca do acoplamento entre a teoria federalista e a realidade nacional percebemos certas lacunas, o que nos levou a repensar o modelo federalista, de maneira que não somente se ajustasse às nossas condições, mas também, de maneira que descobríssemos elementos ausentes, ou presentes, porém não percebidos.
A partir dessas comparações e buscas de ajustes chegamos a um modelo próprio e apropriado às condições do nosso país, o qual denominamos Federalismo Pleno.
Atualmente, pessoas de diversas áreas se dispõem a somar as suas capacidades e experiências para esclarecimento mútuo e daqueles que desejam entender os problemas brasileiros sob perspectivas diferentes daquelas que circulam hegemonicamente h e g e m o n i c a m e n t e na sociedade.
Nós, do Instituto Federalista, aspiramos conhecer com profundidade as experiências históricas que deram origem a formação de nações e países que estão entre os mais desenvolvidos do mundo atual, que estão entre os mais estáveis do ponto de vista político, econômico e social. Mais do que simplesmente isso, aspiramos descobrir tanto os fatores inerentes que fizeram emergir tal estágio de desenvolvimento, de civilização, de cultura, bem como aqueles fatores extrínsecos que proporcionaram as condições para os seus estabelecimentos como nações de vanguarda.
Com base nos conhecimentos já adquiridos temos o suporte teórico mínimo necessário para afirmar que nosso país somente dará a partida para um futuro próspero quando o estado brasileiro sofrer profunda reestruturação.
É claro que não desconhecemos a importância de outros fatores, como, por exemplo, o cultural e a moralidade, inclusa neste. Nenhuma nação perdura no tempo sem estes fatores subjetivos, no entanto, tão reais quanto os econômicos, com os quais, aliás, estão em constante interação. De modo algum desprezamos tais fatores, pois são as bases sobre as quais erguem-se as grandes civilizações.
Acreditamos que uma vez reestruturado o estado brasileiro, no sentido de maior autonomia para os entes federativos, gradativamente os indivíduos emancipar-se-ão da dependência do estado.
Portanto, o que fazemos é buscar os conhecimentos necessários para entender a nossa realidade, apontar os problemas existentes, comparativamente a certos padrões teóricos ou práticos, e descobrir as soluções, os caminhos e os instrumentos adequados para a consecução dos objetivos.
Embora somente agora tenhamos vindo a público apresentar algumas das nossas propostas e o resultado dos nossos estudos, nossas atividades iniciaram-se no ano de 2005, portanto, a mais de uma década. Tivemos o cuidado de buscar fundamentá-las bem. E alguns dos que estão aqui hoje podem testemunhar acerca deste percurso.
O motivo que nos impulsiona é o desejo de ver o Brasil encontrando o rumo do progresso. E o caminho do progresso passa necessariamente pela redistribuição mais equilibrada do poder, passa por uma nova e melhor distribuição de competências entre os entes federativos, o que significa, no cerne, a reestruturação do estado. Todos que compõem o Instituto Federalista estão imbuídos dessa vontade, dessa boa-vontade, decorrente de um ardor sagrado pelo Brasil.
Todas estas aspirações, intenções e propostas não serão possíveis sem um recurso fundamental: o conhecimento.
O conhecimento é o recurso essencial da contemporaneidade. Podemos afirmar sem receio que ele é base da economia da abundância, em contraposição à economia da carência.
Portanto, para o Instituto Federalista o conhecimento é o recurso central. Porque, como sabemos, conhecimento é poder!
Embora esta sentença seja frequentemente atribuída ao pensador francês Francis Bacon, não há certeza de que seja realmente dele.
Contudo, existe um provérbio hebraico, encontrado no “livro de provérbios”, capitulo 24, versículo 5, que tem um sentido muito semelhante: O homem sábio é forte, e o homem de conhecimento consolida a força.
Na verdade, são duas afirmações. A primeira diz que o homem sábio É forte; quer dizer, refere-se a uma propriedade do ser humano. A sabedoria, numa boa exegese, seria um potencial do ser humano que, quando manifestado, manifestaria da mesma forma a força. Isso porque somente o homem sábio que é forte.
Na segunda temos a afirmação que o homem de conhecimento consolida a força, o que implica que o conhecimento é um fator amplificador e consolidador da força.
Esta seria um fator dependente do conhecimento, enquanto na primeira a força está na própria sabedoria.
Apesar de estarem intimamente relacionados, sabedoria e conhecimento não são termos idênticos. Uma distinção fundamental é que o conhecimento pode ser aplicado indiscriminadamente em sentidos contrários, ou seja, tanto para o bem quanto para o mal.
A sabedoria, muito ao contrário, sempre e invariavelmente é idêntica ao bem. Portanto, não existe sabedoria maligna.
Aqui está a incógnita, a variável desconhecida da equação. O conhecimento é, portanto, o fator que possibilitará a eclosão da força subjacente em todos nós. Mas como dissemos momentos atrás, o conhecimento deve ser compartilhado para amplificar os seus efeitos benéficos.
Assim, acreditamos firmemente que: O Instituto Federalista somente alcançará seus objetivos se conseguir obter novos e relevantes cnhecimentos e compartilhá-lhos com todos aqueles que o desejarem, de modo que atinjam a Sabedoria
Senhoras, senhores; ilustres palestrantes e convidados, é isso que estamos fazendo hoje aqui. Queremos compartilhar com todos que nos assistem os conhecimentos que conseguimos amealhar até agora.
À semelhança dos simpósios platônicos, isto é, dos encontros que os filósofos gregos realizavam para discutir suas idéias enquanto compartilhavam tanto o vinho líquido quanto o vinho dos conceitos, queremos que este evento consista num ágape, cujos acepipes e manjares sejam confeccionados de conhecimentos, que nos ajudem a construir um país melhor.
Aproveitando-nos da figura do banquete, comecemos com um pequeno antepasto.
É provável que se hoje alguém negar que enfrentamos uma séria crise, esta pessoa seja considerada como portadora de grave alienação.
Não só a crise é um fato, como podemos dizer que atingiu o recanto mais profundo da nação: a sua identidade.
Inegavelmente, há uma divisão na sociedade, um conflito deveras abissal!
Mas esta crise não começou agora. Suas raízes penetraram muito fundo no solo fértil da nação. Há quem diga que o seu inicio recua até antes da independência. Mas para facilitar o nosso entendimento, fiquemos com um período mais recente, aquele da promulgação da constituição federal de 1988.
“Peço perdão por, neste trecho, ter de referir à minha pessoa. Não tenho a intenção de fazer autobiografia, no entanto, não tenho como escapar desse escolho”.
Desde aquela época, alertados por pessoas que vivenciaram na Europa o flagelo do comunismo, identificamos os problemas que haviam sido plantados no Brasil por meio da nova Carta Magna.
Não descansamos desde aquele momento. Fizemos tudo que estava ao nosso alcance, dentro das parcas possibilidades que uma pessoa sozinha detém. Mas o semeador joga as sementes, e às vezes elas caem em solo fértil e produzem muito. Desta forma, gradativamente conseguimos amealhar apoios e recursos para a difusão desta perspectiva da realidade, embora ainda estejam muito aquém do necessário. Passamos a difundir a idéia de que precisamos de uma nova constituição, paralelamente à proposta do federalismo pleno. E na primeira década deste século fundamos o Instituto Federalista, para ampliar e difundir tais idéias e propostas.
O conhecimento não caminha; ele voa apoiado em propulsores à jato. Assim, aquilo que começamos há mais de vinte anos, progrediu e atualmente, mesmo a visão que tínhamos do federalismo mudou substancialmente.
Vamos relatar, para esclarecimento geral, três princípios que fundamentam a proposta do federalismo pleno.
O primeiro deles é o princípio de dignidade da pessoa humana.
O referido princípio não é só o primeiro; é também o primário. Com isto queremos dizer que os outros não somente lhe são posteriores ou conseqüências, mas que tem nelea sua fonte, a sua matriz, pois é nele que se originam, e mesmo tendo a característica de princípios fundamentais, são secundários em relação ao de dignidade.
A dignidade da pessoa humana inclui e predomina sobre os outros princípios.
De qualquer modo, ele subordina todos os outros, dominando-os.
Pois bem, este princípio tem uma história muito antiga, mas que havia sido esquecida ou desprezada em prol de idéias que vão contra os valores sagrados da humanidade.
O principio de dignidade humana surgiu com o próprio Jesus. Depois foi desenvolvido pelos apologistas cristãos nos primeiros séculos da história do cristianismo.
Diante da violência perpetrada pelo império romano contra todos aqueles que lhes caiam sob o jugo, houve uma reação à altura. Os povos vencidos nas guerras, assim como aqueles desfavorecidos de direitos de cidadania romana, frequentemente eram escravizados, privados da sua liberdade.
É verdade que a escravidão dos mais fracos era norma na antiguidade. Roma é apenas o exemplo mais flagrante.
Mas no momento em que os apologistas olharam para aquela situação deplorável e interpretando corretamente os ensinos de Jesus e, sobretudo, as suas vivências, levantaram a voz para protestar e passaram a afirmar, muitas vezes com testemunhos que implicavam a entrega da própria vida, que o ser humano tem um valor, ou melhor, é um valor. O seu valor está justamente na sua humanidade, que o distingue dos animais. Por não ser uma coisa ou um animal ele tem de ser tratado de acordo com a esta dignidade.
Se formos um pouco mais longe veremos que a etimologia do termo “dignidade” tem em seu centro o radical IGN, que é a mesma raiz do termo fogo, e por extensão, também significa luz, assim como também pode significar força, poder de transformação.
Alguns estudiosos atuais destes temas apontam que provavelmente o termo digno seja uma contração de “de ign”, ou seja, da luz, ou de luz.
Independentemente de qual o significado exato, o termo já nos aponta para algo importante, caro, valioso, presente no ser humano; ou seja, um poder ou uma luz que de algum modo o assemelhava com os deuses ou como criatura deles.
Ora, na antiguidade mais recuada o próprio fogo era considerado sagrado. Fustel de Coulanges, no seu livro A Cidade Antiga nos relata que em cada casa havia um fogo separado daquele que servia para o cozimento dos alimentos e para o aquecimento, em uma pira especial.
Cabia ao homem mais velho cuidar para que o fogo jamais apagasse. Sempre que alguém da casa chegasse ou saísse deveria cumprimentar o fogo; quando tinham de tomar decisões importantes também se aconselhavam com o fogo; durante as refeições eram feitas libações ao fogo sagrado.
Sem nos estendermos demasiadamente, queremos apenas demonstrar as relações existentes entre estes fatos.
Estas civilizações tinham uma noção do sagrado, só não ligavam a idéia do fogo com a do ser humano. No momento em que a noção de dignidade começa a surgir, tem por origem justamente o fogo. O ser humano passa a ter uma dignidade, um fogo sagrado dentro de si, um fogo que emite luz, a luz da razão e da afetividade. E por fim, o ser humano passa a ser considerado como tendo tanto valor quanto este fogo, que representava uma deidade.
Quando a idéia de dignidade espalhou-se, abalou os alicerces de algumas práticas injustas do império romano e contribuiu para a derrocada daquela ordem política e social inclemente.
A idéia de dignidade desenvolveu-se através dos tempos.
Principalmente a partir do século dezenove, a noção de dignidade da pessoa humana começa a migrar para o campo das idéias políticas, sobretudo como contraposição aos exageros do liberalismo clássico, evidentes na revolução industrial, bem como, como contraponto às idéias de igualitarismo propostas a partir das teorias de Karl Marx.
Obviamente, quando falamos em igualitarismo, damos o sentido de busca de homogeneidade universal, refletindo na aniquilação das diferenças. Assim, igualitarismo não tem o sentido de igualdade natural entre os seres humanos, e muito menos de isonomia perante a lei, aliás, idéias que aceitamos e defendemos.
Na última década do século vinte, depois de um lento e gradativo crescimento, depois de sofrermos duas hecatombes mundiais e o flagelo da morte de milhões de pessoas pelas ditaduras comunistas, a dignidade da pessoa humana é alçada à posição de princípio em algumas doutrinas e teorias.
Hoje podemos afirmar com toda certeza que somente as propostas federalistas, defendidas por nós, têm o princípio de dignidade da pessoa humana claramente declarado e como centro das suas idéias e ações.
Mas as nossas idéias e propostas não se reduzem a este princípio. Temos outros que atuam em conjunto com este.
Vamos, então, a outro muito importante para nós: o princípio de Equilíbrio Sistêmico.
Desde a antiguidade grega, quando Aristóteles elabora e codifica a lógica formal, sabemos que um Todo pode ser constituído de partes. Se falamos em parte, decorre daí que pressupomos um todo, embora esta asserção não seja conversível, isto é: não é qualquer Todo que é composto de partes, pois existem os todos simples, sem partes, portanto.
Em alguns todos as partes estão em relação. Se estas não se relacionam de algum modo, então é um todo por justaposição, como um monte de areia, por exemplo. As partes estão juntas, porem não se relacionam. Essas são noções básicas que, entretanto, convém lembrar.
No final do século dezenove a idéia de Todo começa a ser ampliada, e avança até aquilo que se convencionou chamar de teoria dos sistemas. Na verdade, a teoria dos sistemas se fixa com mais atenção justamente nas relações entre as partes e muitas das propriedades do todo decorrentes dessas relações.
Uma importante propriedade é aquela que conhecemos como sinergia, cujo significado é o de um resultado que é a multiplicação das contribuições de cada parte, e não simplesmente a soma das contribuições das partes. De uma maneira popular podemos dizer que ocorre sinergia quando a soma de dois fatores é maior do que o resultado esperado, como se disséssemos que 2 mais 2 é igual a 6, e não a 4.
Outra propriedade importante dos sistemas é que um todo sistêmico tem a capacidade intrínseca de adaptabilidade.
O que significa isso? Significa que o sistema promove auto-ajustamentos constantes tanto para adaptar-se às mudanças ocorridas nos fatores externos a ele, mudança nas condições externas, como para ajustar-se ás mudanças dos fatores internos, ou seja, das mudanças ocorridas nas suas partes, estabelecendo inclusive novas relações, dirimindo algumas que estavam manifestas e amplificando outras que estavam latentes.
Ora, essa adaptabilidade quando aplicada ao Estado Federal, que é um estado composto, é que os pesquisadores do federalismo, assim como nós, apontam como a importante característica da flexibilidade. O estado federal é um estado flexível porque adapta-se às mudanças externas a ele modificando a relações entre as suas partes, ou seja, as relações entre os entes federativos, quais sejam, os estados-membros e a União Federal.
Todavia, não são todos os estados federais que atuam assim, embora, de modo geral exerçam algum grau de flexibilidade.
Em nossas pesquisas descobrimos que o Equilíbrio Sistêmico não deve ser apenas uma característica secundária ou presente sem ser percebida. O equilíbrio sistêmico deve ser também um princípio.
Para não nos estendermos demais, vamos falar do último: o princípio de subsidiariedade.
Subsidiariedade vem de subsidio, que em latim significa ajuda, assistência.
Na época do império Romano, as legiões do exército, quando iam para as batalhas, mantinham sempre algumas tropas de reserva. Caso precisassem, elas eram acionadas para suprir de força às tropas em combate. E da guerra que vem o termo subsidio e subsidiariedade.
Porém, a noção de subsidiariedade, como uma relação entre esferas sociais e políticas diferentes começa surgir com Aristóteles, em seu conhecido livro “Ética à Nicômaco”, passa pelas elucubrações do pensador e poeta italiano Dante Aleghieri, em seu livro, “Da Monarquia”, depois, no século dezessete passa pelas elaborações do teólogo protestante Jon Althus, ou Johanes Althusius, como ele se assina em latim, chegando até a primeira encíclica social da Igreja Católica, a Rerun Novarum, do Papa Leão Treze.
Atualmente, pesquisadores ligados Instituto federalistas estão estudando certa influencia brasileira na elaboração desse importante documento eclesial.
Mas é somente na segunda metade do século vinte que a subsidiariedade é alçada à posição de princípio, e grande parte do mérito deve-se à Igreja Católica.
Mas na última década, este princípio chega à academia, e na França novos estudos que enfrentaram a questão dos modelos de estado, tanto o ultra-liberal quanto o de bem-estar social, que não resolveram os problemas das populações dos países que os adotam, muitas vezes criando outros problemas, passam a utilizar a subsidiariedade como o elemento principal de um novo modelo: o Estado Subsidiário.
A subsidiariedade, como princípio operacional, em resumo rápido, significa que todas as atividades e controles devem ser realizados o mais próximo dos cidadãos.
A subsidiariedade tem dois aspectos que merecem ser destacados: um aspecto Ativo e um Passivo.
Por isso, outro modo de vê-lo é aquele que indica que o ente superior não deve interferir nas atividades do ente inferior; este é o aspecto passivo. No aspecto ativo o ente superior tem obrigação de intervir quando o inferior não apresenta as capacidades necessárias para manter a sua autonomia.
Mas essa intervenção se dá sempre de maneira suplementar. Quer dizer, sempre temporariamente, até que o ente estatal inferior readquira as condições de autonomia. Ao contrário, todas estas vem sendo pensadas e testadas há milênios.
O Brasil encontra-se numa encruzilhada. Podemos continuar errando, reproduzindo e repetindo modelos fracassados e desgastados, ou podemos olhar com atenção tudo o que grandes pensadores observaram e sistematizaram, e depois colocar em prática essas idéias, simultaneamente nos aproveitando das experiências do passado e aplicando modelos diferenciados, que podem nos colocar na dianteira da civilização.
Sinteticamente, podemos afirmar: O futuro esta em nossas mãos.
Prestemos atenção agora, para que não venhamos a repetir um vitimismo surrado e um sentimento de inferioridade que parece interminável, perante outras nações supostamente mais poderosas.
O federalismo pleno, nossa proposta, se baseia, então, e três princípios: dignidade da pessoa humana; equilíbrio sistêmico e subsidiariedade.
Para finalizar, queremos apenas destacar que assim como todos os federalismos existentes, no federalismo pleno é a sociedade a protagonista e não o estado, situação que temos hoje em nosso pais; um estado sufocante, altamente centralizado e que pouco oferece aos seus cidadãos, que, em vez de ajudá-los a produzir a riqueza, apenas redistribui a pobreza, a cada dia mais assustadora.
Muito ainda teríamos a dizer sobre o federalismo pleno.
O tempo não nos permite mais.
Retomamos nossa afirmação inicial, sobre a importância do conhecimento e do seu compartilhamento para que aumentemos nosso capital social e intelectual, melhores a qualidade da nossa nação.
Em nossos peitos, assim como no de todos que nos assistem, bate um coração que se abrasa de amor pelo país. Sabemos dos nossos potenciais, sabemos das nossas riquezas, sabemos do poder da nossa gente. Mas sabemos também que estivemos caminhando por veredas erradas.
Chegou o mmento de mudar.
Chegou o mmento de tomarmos os nossos destinos em nossas próprias mãos.
Chegou a hora de ralizermos as transofrmações necessárias para que assumamos nossa posição no mundo como umpaís Livre, justo e próspero.
Chegou o momento de refundarmos a nação brasileira. E o federalismo pleno é o caminho que nos levará a este destino grandioso.
Viva a Pátria Amada, Viva o Brasil!
Declaro aberto o primeiro fórum federalista nacional.
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